9 de julho de 2011

A problemática da mentalidade - parte I

Muitas vezes em discussões e debates acerca dos principais problemas que a Guiné-Bissau enfrenta, ouve-se a frase solta "o problema dos guineenses é a mentalidade", ou "tem-se que mudar a mentalidade".
É certo que as mudanças que a maioria de nós quer ver não dependem só de factores exteriores, e sim de factores interiores, pois lá aconselha o velho ditado a "não dar o peixe e sim ensinar a pescar".
Mas essa questão de mentalidade pode revelar-se mais complexa do que um quebra-cabeças. Tanto pela complexidade como pela pluralidade.
Concerteza que influenciar a mentalidade de uma criança não é o mesmo que fazer com que uma pessoa já adulta mude a sua forma de pensar. A mesma coisa se aplica a influenciar uma pessoa de mente mais aberta e receptiva e outra pessoa com a mente mais fechada.

A primeira questão a abordar é: de onde herdámos a nossa maneira de ver o mundo, de onde se criam os nossos conceitos e juízos?
Geralmente, dependem de:
- O ambiente e valores que nos são incutidos desde cedo pela nossa familia e pessoas proximas;
- A sociedade em que crescemos;
- Cultura, religião e outras crenças com que lidamos de perto ou herdamos do ambiente socio-cultural actual;
- Experiências e eventos marcantes na nossa vida.

Se por um lado uma pessoa que viva num ambiente mais multicultural, mais avançado como uma cidade tenha mais facilidade em adaptar-se a novas idéias, já o mesmo geralmente não se aplica a zonas mais remotas como aldeias, ou no nosso caso, "tabankas". Porém, vai-se ver aqui que muita das vezes a problematica da mentalidade está interligada com a educaçao; pelo simples facto de que a educacao "abre" mais a mente de um individuo, e torna-se mais facil faze-lo entender a logica de uma mentalidade mais proactiva ou vencedora (por exemplo).
Porque embora a educacao facilite mais cimentar uma boa mentalidade num individuo, isso nao é pre-condicao para tal, visto verificarmos muitas vezes individuos com formacao avançada mas que continuam com uma visao inadequada da sociedade e do Mundo.

Ivy S.
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2 comentários: on "A problemática da mentalidade - parte I"

A. Casimiro disse...

O problema deste tipo de discussões, é a utilização de frases feitas como "o problema é da mentalidade" ou " o problema é da corrupção". O nosso grande problema,quanto a mim, é a multiplicidade de problemas, de que destaco assim de repente 10 (só para ser um número redondo e sem uma ordem propriamente):
1. Ausência de interiorização do conceito de Estado-nação.
2. Questões pendentes dos anos da luta de libertação nacional (cumplicidades entre colegas das diferentes frentes, a questão cabo-verdiana, a morte de Amílcar Cabral, etc,etc).
3. Erros cometidos na entrada dos camaradas (onde se pode incluir a ausência de um período de transição decente).
4. Uma grande taxa de analfabetismo e de iliteracia.
5. Uma elite fraca que "raptou" o poder, sem presente nem capacidade de sonho.
6. Fragilidade do estado, das instituições e da administração pública que contribui, e muito, para a corrupção desenfreada.
7. Ausência de forças armadas republicanas.
8. Inexistência de um aparelho de justiça funcionante.
9. O problema do narcotráfico e suas ligações.
10.Ausência da valorização do trabalho e do estudo em contraponto à cultura de matchundadi!

Thandive Sila disse...

Sim, estou de acordo com todas essas entraves que citaste; de facto os problemas são múltiplos! Quando falo da mentalidade, estou a procurar uma raíz digamos comum a todos esses problemas, porque estes surgiram porcausa da forma errada como o guineense encara o seu quotidiano e assuntos de carácter importante. Digamos que nenhum desses factores que citastes irá mudar se não "reprogramar-se" a maneira de pensar dos guineenses. Dou um exemplo, que é alguns donativos que foram cedidos a um hospital público guineense, algo que poderia resolver grandes problemas com que se estavam a deparar, mas aquilo foi simplesmente "arquivado"; tinham a solução mas não usaram porquê?
Este é um bom tópico de discussão e seria bom que mais pessoas participassem da reflexão.

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