28 de janeiro de 2012

Um novo fervilhar da literatura Guineense

A Guiné-Bissau atravessa neste momento um excelente período em termos editoriais. Nos últimos tempos, foram vários os livros que me chegaram às mãos.

Em «Amílcar Cabral (1924-1973). Vida e morte de um revolucionário africano» Julião Soares Sousa, historiador Guineense, doutorado pela Universidade de Coimbra, leva-nos numa viagem desde Bafatá, com o nascimento de Amílcar Cabral, até Conakry com a sua morte, passando por Cabo-Verde e Portugal. Trata-se de um excelente livro, muito bem fundamentado, que nos faz compreender o homem Amílcar Cabral e o contexto da sua formação e elaboração das suas ideias. Vários são os mitos que se desfazem (como por exemplo o seu local de nascimento) e diversos factos reportados por outros autores são corrigidos. Julião Sousa conseguiu fazer um retrato sério e distanciado, não alimentando mitos e ficções, permitindo-nos estar em contacto com o homem superior que foi Amílcar Cabral. Tratando-se fundamentalmente da adaptação de uma tese académica que serviu para a obtenção do doutoramento do autor, o leitor poderá ficar um bocado perdido no meio das inúmeras referências e das diferentes contextualizações que são obrigatórias num meio académico, mas que acabam por tornar os livros pouco "amigáveis" para o público geral.
No entanto, trata-se de um livro obrigatório para quem quer perceber o fundador das nacionalidades Guineense e Cabo-verdiana.

«Testemunho» é um livro póstumo de Filinto Barros,um dos intelectuais da ala guineense do PAIGC, com grande participação na clandestinidade em Lisboa e após a independência membro de diferentes governos. No livro, o autor dá a sua visão do 14 de Novembro, das suas causas e algumas das suas consequências. É uma visão pessoal, de quem viveu os acontecimentos por dentro e que tem, por vezes, necessidade de se justificar. É, quanto a mim, um livro que poderá estimular o debate e a polémica sob diferentes formas. Desde logo pelas causas que aponta como estando na origem do 14 de Novembro e do papel do Nino Vieira. Por outro lado, o autor apresenta a sua visão sobre a tentativa de industrialização do país efectuado por Luís Cabral e as causas do seu falhanço (pelo menos do seu ponto de vista). Ainda estão vivos vários intervenientes do processo de escolha dos diferentes projectos e que poderão apresentar as suas versões. Outro tema abordado no livro foi o da liberalização económica e as privatizações de empresas públicas, onde ficamos a perceber o enorme fiasco que caracterizou este período e alguns dos responsáveis. Trata-se de um contributo para a nossa história recente e é pena que o autor já não esteja entre nós, porque o debate poderia ser vivo e interessante.

Por fim, quero falar de «Entre a Roseira e a Pólvora, o Capim!», segundo livro de poemas de Saliatu da Costa, uma jovem Guineense que se vem juntar à lista de poetas da geração pós-independência e a um género onde tivemos sempre maior tradição. O livro abre com um excelente prefácio do Miguel de Barros e os poemas levam-nos pelo verde do nosso país, suas gentes, seus cheiros e suas contradições. Vale a pena ler.

Neste momento encontro-me a ler o «Guerra Colonial e Guerra de Libertação Nacional 1950-1974: o caso da Guiné-Bissau» do historiador Leopoldo Amado, sobre o qual darei mais informações quando o acabar.

Uma palavra ainda, para o romance, ainda não publicado, da Joacine Moreira que esperamos que contribua para o panorama literário Guineense.

Que estes livros sirvam para nos conhecermos enquanto povo e que o debate livre e civilizado floresça.

A. Casimiro
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1 comentários: on "Um novo fervilhar da literatura Guineense"

flagcounter22 disse...

bom blog! visite o meu blog também :)

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